domingo, 30 de novembro de 2008

A VIDA E O CAMINHO NO ESPÍRITO DE CRISTO

E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. (Gálatas 5:24,25)

A compreensão do significado da vida e o caminho no Espírito de Cristo é de fundamental importância para o entendimento de quem somos em Cristo e para que somos em Cristo.

Ele não nos chamou simplesmente para sermos em Cristo, mas também para realizarmos as ações de Cristo. Isto é, não somente vivermos em Cristo, mas também andarmos nEle.


Viver no Espírito de Cristo

Eis aí o que não se pode fazer por conta própria. Viver requer um nascimento e ninguém nasce por que quer. Nasce-se por uma vontade alheia. A vontade dos pais é que determina o nascimento de uma nova vida. Ainda que esta vontade não fosse exatamente gerar filhos, não se pode atribuir ao filho a responsabilidade de ter nascido.

Da mesma forma não há mérito algum que possa ser atribuído ao homem quando este recebe a experiência do novo nascimento, o nascimento do Espírito. Jesus afirmou que o nascimento do Espírito se daria onde o espírito desejasse, sem que soubéssemos de onde vinha, nem para onde iria.

Se estamos vivos a causa disso é uma só: Cristo nos deu vida. Assim dizia o apóstolo Paulo: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Efésios 2:1).

A vida em Cristo não consiste em o homem conquistar Deus, mas sim em Deus conquistar o homem. Não advém de obra alguma que o homem possa fazer, mas sim da graça de Cristo. É ela e não nossas obras que proporcionam vida espiritual. Todavia, “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito”.


Andar no Espírito de Cristo

O novo nascimento e a nova vida em Cristo não é um fim em si mesmo. Cristo nos deu nova vida para que andemos em novidade de vida. A nova vida que Cristo dá inclui o caminhar, e este cabe a cada um de nós, bem como a todos nós em comunhão.

Na verdade não há vida nova sem um novo caminhar. De nada adianta dizer ter uma vida cheia do Espírito se não há ações que reflitam o caráter de uma vida espiritual. Assim diz São Tiago: “Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé” (Tiago:2:17,18).

Muito embora sejamos salvos pela graça e não pelas por obras. Não somos salvos para viver sem obras. Pelo contrário, nossa fé deve ser mostrada por meio delas.

Infelizmente muitos crentes tentam mostrar sua fé com fé somente. Aparentam uma espiritualidade que nem de longe condiz com suas atitudes. Resumem a vida espiritual aos louvores, à adoração, às orações, correntes, campanhas e tudo o mais que lhes proporcionem um sentimento de bem estar. Eu também amo e preciso dispor de tempo em louvor, adoração e estudo das Escrituras. Mas isso não é tudo! Não basta viver, é preciso caminhar.

O caminhar é ação, é atitude. Demanda renúncia, disposição, preparo e responsabilidade.

Para caminhar em Cristo, em primeiro lugar devem renunciar a si próprio, a carne e sua concupiscência. Não há como viver em Cristo sem antes nEle morrer. Não se vive nova vida sem antes renunciar o antigo modo de viver, assim classificado por Paulo: “imoralidade sexual, impureza, indecência, adoração a ídolos, feitiçarias, inimizades, brigas, ciumeiras, acessos de raiva, ambição egoísta, desunião, divisões, invejas, bebedeiras, farras e outras coisas parecidas com essas” (Gálatas 5:19-21).

Caminhar significa deixar coisas pra trás. Não dá pra caminhar com Cristo e permanecer no mesmo estágio carnal. Há que se romper com certas coisas. No dia em que nascemos tivemos nosso cordão umbilical cortado. A partir de então passamos a respirar sozinhos, a sugar e depois se alimentar, a engatinhar e depois andar. Nada disso seria possível sem deixar o estágio anterior. Da mesma forma, não se pode andar em Cristo sem antes deixar o pecado.

Caminhar em Cristo é dispor-se a trabalhar por Ele. Colocar a sua disposição o tempo, o dinheiro, os bens, a vida, o intelecto. É dispor-se a ajudar o necessitado, manter obras evangelizadoras, contribuir com hospitais, asilos, orfanatos e órgãos de assistência social. É envolver-se de fato em favor do Reino de Deus. De nada adianta declarar amor ou admiração por isso ou aquilo se não houver disposição em trabalhar, contribuir, ofertar, se deixar consumir, dar a vida.

Caminhar em Cristo não é fácil, exige preparo, requer o exercício da fé, porque a fé genuína requer o exercício em obras. Afinal, nossa fé não pode ser unicamente teórica. A fé deve produzir ações. Todavia, não somos capazes de realizar, de imediato, qualquer obra que seja, mas podemos fazer o que nos vier à mão de acordo com as forças (fé) que dispomos. Assim, a cada obra que realizamos nos fortalecemos para realizarmos obras cada vez maiores.

Por fim, andar com Cristo requer responsabilidade. Infelizmente, muitas vezes, se inverte os valores. Atribui-se ao homem os méritos da salvação e a Deus a responsabilidade de andarmos. Então, quando algo de errado acontece, a culpa é de Deus ou do diabo, nunca do errante. Isso está errado! Foi Deus quem nos salvou e não temos mérito algum nisso. Somos nós que erramos e a responsabilidade de errarmos ou deixarmos de caminhar é toda nossa. Ainda assim, Ele não nos deixa só e nos dá toda força de que necessitamos para caminhar, bem como para levantarmo-nos após a queda.

“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1 Cor.15:58).

domingo, 9 de novembro de 2008

A PALAVRA PROFÉTICA


Virou moda falar a palavra profética. Entretanto, a moda que se fala nada tem a ver com o que de fato é profecia. Estão confundindo ‘palavra profética’ com ‘confissão positiva’.

Tenho observado que nos vários seguimentos religiosos onde o termo tem sido usado, a tal palavra profética é utilizada tão somente como afirmação do que se deseja. Isto é, afirma-se o que se deseja e atribui-se a afirmação a uma obrigação de Deus em realizá-la.

O pequeno detalhe de que se esquecem é que, em toda Escritura Sagrada, jamais uma profecia foi gerada pelo profeta. Todas as profecias são geradas pelo Espírito de Deus e o profeta é apenas seu porta-voz. Não nos é outorgado, ao menos nas Escrituras, qualquer autoridade para falar o que desejamos declarando ser essa a palavra da profecia do Espírito. Toda nossa autoridade consiste em anunciar a profecia já revelada nas Escrituras.

Nenhum profeta jamais declarou algo proveniente de seus desejos como se fosse palavra do Espírito. O próprio apóstolo Paulo teve zeloso cuidado em não cometer tal ultraje, quando falou seu desejo ou opinião disse: “digo eu, não o Senhor” (1 Coríntios 7:12).

A palavra profética é gerada do Espírito Santo e transmitida pelos profetas. Por isso, não há uma só profecia que diga: “eu declaro”, ou “eu determino”, ou “eu profetizo”. A verdadeira profecia diz: “Assim diz o Senhor”.

E, afinal, o que o Senhor diz? Haveria alguma revelação a mais que Ele queira dizer que não tenha dito nas Escrituras? A menos que o Apóstolo Paulo tenha se enganado redondamente, não há mais o que Deus queira revelar. Disse Paulo: "Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema" (Gálatas 1:8).

É realmente impressionante como muitos desejam conhecer mais a Deus sem querer conhecer mais as Escrituras. Dizem querer experiências com Deus sem querer conhecer o que Deus já nos deu para experimentarmos, a saber, sua Palavra. Querem conhecer a Cristo sem conhecer a Palavra, que é Cristo. Enquanto os Romanos trocaram o relacionamento com Cristo, da Palavra para a hóstia, os pentecostais trocaram o relacionamento, da hóstia para as “experiências”, o empirismo.

Através do empirismo, muitos querem descobrir o que Deus não revelou, ao tempo em que rejeitam o que está revelado. Quando não entendem o que a Bíblia diz, ou quando o que ela diz contraria o que crêem, dizem que isso não pertence ao homem saber, que está oculto em Deus. Ora, quanta incoerência! Se Deus escreveu nas Escrituras Sagradas, está revelado! Ao invés de dizerem que não pertence ao homem saber, deveriam ter a humildade de querer aprender. Afinal, se o Espírito não revelar o que está escrito, porque revelaria o que não está? E se não pertence ao homem saber o que está escrito, porque Deus escreveu? Não é estupidez querer entender o que não está revelado nas Escrituras (e isto sim ao Senhor pertence) e negligenciar o que está revelado?

A função do Espírito Santo não é nos ensinar o que não foi revelado, não é nos fazer adivinhar, e sim nos lembrar e ensinar todas as coisas que Jesus falou (João 14:26).

Assim, a Palavra profética consiste em anunciar o Reino de Deus e a sua justiça. Hora promovendo a virtude, hora denunciando o mal.

Palavra profética não é declarar jargões positivistas. Não foi assim que procederam os profetas e os apóstolos. Muitos sofreram martírio, exatamente, por causa das injustiças e heresias que denunciaram. Logo, ser profeta, hoje, é anunciar a profecia revelada nas Escrituras, é levar amor de Deus aos carentes através das boas obras, é anunciar o Reino de Deus, que “é justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17). Mas não é só isso, a Palavra Profética é aquela que se levanta contra as injustiças sociais, o mau uso dos recursos naturais, o abuso da boa fé popular, o legalismo religioso, a corrupção, as heresias e coisas semelhantes a essas.

Infelizmente a verdadeira palavra profética não interessa aos “grandes profetas”, líderes religiosos, cada vez mais envolvidos em conchavos políticos e cegos pela sede de poder. Para esses, quanto menos conhecimento (Bíblico ou científico) o povo tiver, mais fácil será dominá-lo, e isso é o que lhes importa. E assim, prosseguem com seu empirismo e charlatenismo, fazendo-se semi-deuses, enganando a massa burra, construindo seus impérios “acima das estrelas de Deus” (Isaías 14:13).

Meu amigo, não se deixe enganar, já dizia Jesus, “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (João 5:39).

“porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos”
(Mateus 24:24).

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A SALVAÇÃO É INDIVIDUAL OU COLETIVA?

Sempre ouvi dizer que a salvação é algo individual. Mas, honestamente, nunca li um só versículo bíblico que afirmasse tal conceito. Ao contrário, o que encontro são vários versículos que atestam a salvação de um povo, ou de uma nação, uma raça, tribo, toda terra, ou mundo todo.

Por outro lado podemos perceber que a perdição pode ser individual. Eram cem ovelhas quando uma delas, individualmente, se perdeu. Da mesma forma a perdição do filho pródigo se deu de forma individual. É claro que também encontramos exemplos de perdição coletiva, de tal forma que Deus certa vez afirmou que seu povo (termo coletivo) perecia por falta de conhecimento. Assim, encontramos exemplos de perdição coletiva e individual. No entanto, ao que se refere à salvação só a encontramos coletivamente, nunca individualmente.

A verdade é que não precisamos de ninguém para nos perder; e na maioria das vezes nos perdemos exatamente por não ter ninguém ao lado. Não foi a toa que Deus disse: “Não é bom que o homem viva só”; não por acaso Jesus enviou seus discípulos de dois em dois.

Somos seres sociais e seja qual for nosso temperamento, se quisermos crescer como pessoas, precisamos aprender a viver em comunhão, compreendendo a necessidade que temos uns dos outros.

Não há como ser cristão individual. Não se vive cristianismo isolado. Isso porque o cristianismo não se resume em ter comunhão apenas com Deus, mas ter comunhão com Deus e com o próximo. É essa a mensagem expressa na cruz: uma haste vertical, prefigurando a comunhão com Deus e outra haste horizontal, prefigurando a comunhão com os irmãos. Afinal, se não amas teu irmão a quem vês, como podes amar a Deus, a quem não vês?

É salvo quem faz parte de um povo salvo, quem está ligado ao corpo de Cristo. Pois se alguém não está ligado a ele é como um ramo seco que para nada mais serve senão ser jogado ao fogo. Assim já dizia Santo Agostinho: “Não há salvação fora da Igreja de Cristo”.

Não quero dizer com isso que a salvação esteja atrelada a alguma instituição religiosa, seja ela qual for. Afinal, muitas instituições religiosas estão longe de parecer-se Igreja de Cristo, muito embora se denominem como tal. Refiro-me à Igreja àqueles que comungam da fé em Cristo e se dispõem a viver em comunidade a serviço do próximo. Estou certo de que embora existam aqueles que vivem em comunidade sem de fato amar, é impossível que alguém que de fato ame não viva em comunidade.

A salvação não é individual porque a vontade de Deus é salvar a todos. A salvação não é individual porque não é um fim em si mesmo, a finalidade de sermos salvos é levarmos a salvação a outros que ainda estão perdidos. A salvação não é individual porque ninguém consegue salvar-se a si próprio, antes necessita da graça de Cristo que é manifestada por meio de seu corpo na terra, a Igreja. A salvação não é individual porque um dos passos do processo de salvação é o chamado, e este se dá pela voz do Espírito e a noiva (Igreja) que juntamente dizem: “vem”.

Por fim, ser salvo não significa qualquer mérito pessoal. Significa sim, graça de Cristo, que move céus, terra e corações a fim de nos alcançar.

Portanto, oremos: Obrigado, Senhor por todos aqueles que o Senhor tem colocado em nosso caminho. Pois são anjos sem os quais não saberíamos encontrar-Te!


Por Rev. Julio Fernandes
Igreja REINA – SC
www.igrejareinasc.blogspot.com/

domingo, 24 de agosto de 2008

A FÉ QUE OPERA e o SÁBADO

As duas primeiras curas realizadas por Jesus e relatadas pelo evangelista João, trazem um ponto comum muito importante. Em ambos os casos, a cura não foi operada conforme, os que dela necessitavam, esperavam. Isto é, o milagre não aconteceu conforme a fé deles, mas sim conforme a fé de Cristo. Isso nos leva a entender que mais do que ter fé EM Cristo, precisamos receber a fé DE Cristo. Pois o limiar de nossa fé jamais delimitou, nem jamais delimitará o agir de Deus sobre nós. Mesmo que, em algumas circunstâncias, Jesus tenha dito que foi a fé da pessoa que a salvou, Ele jamais ficou dependente de tal fé para operar o que quisesse. Até porque se a pessoa teve alguma fé, tal fé foi concedida pelo próprio Senhor Jesus mediante seu próprio Espírito, pois a fé é um dom de Deus. Assim, se Deus nos exige fé, antes nos concede a fé exigida.

Muitas igrejas concentram seus esforços no princípio de fazer com que seus seguidores exercitem sua fé EM Cristo. Para isso promovem campanhas onde usam de objetos, amuletos, votos, sacrifícios, concentrando o princípio da fé nas mãos dos homens em lugar das mãos de Deus. No entanto, o verdadeiro milagre tem muito mais haver com a fé DE Cristo, do que com a fé EM Cristo. Graças a Deus, por isso! Afinal, as pessoas que mais necessitam de um milagre, são exatamente aqueles que menos tem forças pra crer. Assim veremos nos casos a seguir:

No primeiro episódio Jesus estava em Cana da Galiléia, quando um oficial do rei, cujo filho estava doente, pediu a Jesus que fosse até Cafarnaum curar seu filho. Ao contrário do que este esperava, Jesus tão somente disse que seu filho já estava curado. Ao descer à Cafarnaum os servos do oficial vieram-lhe ao seu encontro, dizendo-lhe que seu filho vivia, e constatou que a febre o havia deixado no exato momento em que Jesus lhe havia dito: “vai, teu filho vive”.

Jesus viveu em meio a um povo que dependia de sinais palpáveis e tangíveis para crer e exercer a fé. Por isso aquele homem esperava um toque físico de Jesus em seu filho enfermo, para curá-lo. Ao que Jesus fez uma severa crítica, relatando a necessidade de sinais, que aquelas pessoas tinham para, só então, crer. Jesus estava mostrando que, por meio dEle, um novo tempo estava sendo instituído, onde sua palavra seria o modus operandi da fé. Isto é, o milagre não necessitaria mais da crença ritualista, do toque, do visível, do palpável, como era até então, onde toda fé era visualizada e mensurada nos costumes e leis cerimoniais. Neste novo tempo, instituído por Cristo, crer em Sua Palavra é tudo o que precisamos para ver a glória de Deus.

No segundo episódio, um homem paralítico esperava, há 38 anos, a chance de ser o primeiro a lançar-se nas águas do tanque chamado Betesda, quando estas fossem agitadas pelo anjo que as agitava de ano em ano. Qualquer pessoa que mergulhasse primeiro nestas águas quando eram agitadas, era curada de qualquer enfermidade. Este episódio, além de relatar a cura proveniente de Deus, relata uma figuração de Cristo, pois a água prefigurava Jesus, o Verbo encarnado de Deus, a Palavra Viva; o anjo prefigurava o filho de Deus vindo do céu, batizador com Espírito Santo. É no mover do Espírito de Deus sobre sua Palavra que recebemos vida espiritual, regeneração, restauração e cura.

O que mais me chama a atenção neste texto é que o homem tinha, de um lado, o tanque que simbolizava Jesus e, do outro lado, o próprio Jesus. Quando Jesus lhe pergunta se queria ser curado, o homem reclama a falta de ajuda para ser lançado ao tanque. Ah! Se ele soubesse com quem estava falando, a resposta certamente seria outra! Ele estava diante do próprio Cristo e ainda assim depositava sua confiança naquilo que tão somente simbolizava Cristo. O não conhecer Jesus faz com que muita gente, ainda hoje, se porte da mesma maneira.

Fico impressionado com a forma como as igrejas ditas cristãs usam e abusam das figuras, imagens e símbolos em seus rituais de orações, curas e prosperidade. Aliás, existe óleo para cada tipo de milagre desejado, sacrifícios para cada bênção a ser alcançada, objeto “ungido” para cada mal a ser “exorcizado”. E o pior é que muitos desses objetos, artefatos, relíquias, rituais ou sacrifícios nem sequer são figuras de Jesus. Se conhecessem a Jesus verdadeiro não precisariam depositar sua fé nesses amuletos. Abandonariam essas práticas que tão somente configuram verdadeira feitiçaria* e outras vezes vodu*. (* confira o glossário)

Tais atos e figuras simbólicas são perfeitamente compreensíveis quando analisados na perspectiva de quem vivia em um tempo em que Cristo ainda não havia sido manifesto aos homens. Assim, tais figuras e rituais serviam de sinal e anelo que apontavam Cristo, afim de que Cristo, ao vir, fosse reconhecido pelos seus. Uma vez que Cristo tenha vindo, morrido e ressuscitado, que esteja entre nós, e nós o tenhamos reconhecido e vivamos nEle, não precisamos mais de sinais, ou sombras, pois temos o próprio do qual os sinais figuravam. Não se precisa das placas que indicam o caminho, depois que já se chegou ao destino. Assim, não precisamos das sombras se já temos Cristo.

Da mesma forma deve ser compreendida a questão da guarda do sábado que, não por acaso, é abordada nesse mesmo texto e contexto, onde não só Jesus a quebrou, curando nesse dia, como ordenou ao paralítico quebrá-la, carregando sua cama. Tal quebra não se trata de insubordinação ao mandamento divino, mas sim de que já havia cumprido seu propósito, pois sua finalidade era apontar para Cristo. Paulo Afirmou que os sábados eram sombras do que havia de vir, sendo que o que havia de vir era Cristo. Portanto, o sábado simbolizava Cristo, em quem encontramos refrigério e descanso. Uma vez que tenhamos o próprio Cristo em nossa vida, não é coerente continuarmos com os olhos fitos na sombra.

“Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:16-17).

Minha oração é para que o Senhor nos faça compreender a sua graça, vivendo pela fé, a fé DE Cristo, que nos é dada por meio de sua Palavra vivificada pelo Santo Espírito. Afim de que possamos dizer: Tua graça me basta, Senhor!



Rev. Julio Fernandes
REINA - SC
www.igrejareinasc.blogspot.com


Glossário (segundo Freud em Totem e Tabu)
Feitiçaria – Rituais representativos que visam manipular a ação dos deuses.
Vodu – Rituais representativos que visam manipular a ação e vida das pessoas.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O BOM CAMINHO, UMA ÓTIMA RECOMPENSA


No capítulo 20 do Evangelho segundo São Mateus, Jesus conta a parábola do senhor que contratou vários trabalhadores para trabalharem em sua vinha, uns logo ao iniciar o dia, outros às nove da manhã, outros ao meio dia, três da tarde e por derradeiro contratou alguns perto das cinco. Ao acertar as contas, pagou o mesmo valor, tanto ao que trabalhara o dia inteiro, quanto ao que trabalhara apenas uma hora.

Tal qual a reclamação dos que trabalharam mais, neste episódio, é a reclamação de muitos, que se consideram justos, nos dias de hoje. Estes afirmam que é injusto, da parte de Deus, acolher em seus braços aquele que se arrependeu de suas más obras no último instante de sua vida, a exemplo de um dos ladrões na cruz ao lado da cruz de Jesus, que sem ter feito qualquer boa obra recebeu o paraíso, tal qual uma pessoa que viveu dedicando toda a sua vida à caridade em Cristo.

A resposta que encontramos no relato do evangelista Mateus ainda serve os nossos dias: “por acaso não tenho o direito de fazer o que quero daquilo que é meu?”.

Ora, a Bíblia diz que a salvação pertence ao Senhor. Não pode, Ele, dá-la a quem quiser? Se Ele salva o sujeito mal no último segundo, não deveríamos ficar felizes com isso?

Além do mais, ninguém deveria se sentir injustiçado por dedicar a vida inteira a Deus e receber o mesmo soldo de quem só se lembrou dEle aos 45 do segundo tempo da prorrogação. Ninguém deveria ter inveja deste. Afinal, este pobre coitado passou a vida sem ter tido a felicidade de ser um bom sujeito.

Muita gente acha que fazer o bem é um sacrifício penoso que o torna merecedor do paraíso. Que engano! Não há nada mais prazeroso que servir o Reino de Deus e sua justiça. Não deixe pra amanhã, entregue-se a Cristo hoje, converta-se de seus maus caminhos. A recompensa começa aqui mesmo, na simples satisfação de viver o bom caminho e trabalhar nele desde cedo, carregando nossa cruz e seguindo o Mestre.



Por Pr. Julio Fernandes
Igreja REINA - SC

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

PALAVRAS, MORTAS, OU ETERNAS?

“Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mateus 10:28).

“kai mh fobhqhte apo twn apokteinontwn to swma thn de yuchn mh dunamenwn apokteinai fobhqhte de mallon ton dunamenon kai yuchn kai swma apolesai en geennh”. (texto original grego)

Quando Jesus disse estas palavras, Ele bem sabia a dimensão exata do que isso representava para os seus discípulos. Afinal, o Filho de Deus se fez homem, assumindo e vivendo na própria carne todas as emoções e sentimentos que um ser humano pode viver, e o viveu intensamente, até seu último suspiro. Certamente, Ele não se referia unicamente à morte do corpo em si, mas de tudo quanto o corpo (do grego swma) representa. E representa todo universo físico, palpável e mensurável, que norteia a vida. Do mesmo modo, Jesus não só fez menção aos assassinos, mas também àqueles que podem nos trair, roubar, caluniar ou ferir o coração. Assim, não temer “os que matam o corpo” é estar disposto a continuar lutando, mesmo que se perca tudo na vida. Pois, infelizmente, é nessa hora que muitos morrem, mesmo continuando a respirar.

Tradicionalmente, a palavra yuchn é traduzida como alma, o que traz à maioria das pessoas a concepção de um “fantasma” ou um ser espiritual que habita um corpo sem necessariamente depender do corpo para sua existência. Sem querer abordar os méritos ou deméritos das teorias antropológicas religiosas, quero trazer a luz o fato de que yuchn ou psushe tem sua conotação direta com mente e assim podemos relacioná-la aos pensamentos, ideais, conhecimentos, ensinamentos, fé, sabedoria. E é dentro dessa raiz que queremos nos ater, pois acreditamos piamente que essa é a essência do que Cristo estava tratando neste texto.

A análise contextual nos mostra que Cristo estava incentivando aos seus discípulos a proclamarem sua fé, aquilo que aprenderam de Cristo e conseqüentemente criam. A verdade é que eles receberam de Cristo um conhecimento sem precedentes, e seus pensamentos estavam sendo forjados pelo fogo do qual nenhum homem havia provado até então. Assim estava se formando a psique dos Apóstolos. Por certo, não podia, uma psique tão preciosa morrer com os discípulos. Era preciso proclamá-la aos quatro ventos. Mais tarde Jesus diria: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura". Dessa psique, os ensinamentos de Jesus, ainda hoje, depende a transformação do mundo.

As idéias, os pensamentos, as palavras, os conhecimentos, enfim a psique morre com seus portadores quando não é proclamada. E diante dessa perspectiva quero dizer que podem roubar-nos os bens, ferirem-nos o coração, trair-nos deliberadamente, podem até matar-nos o corpo, mas não poderão destruir nosso conhecimento adquirido e transmitido, seja por artigos, livros, pregações, discipulado, conversas e músicas. Não poderão apagar do coração dos que nos ouvem, toda psique transmitida.

Outro fator importante é a compreensão etimológica da palavra inferno, aqui traduzida do original geennh, uma palavra grega usada para referir-se ao vale de Tofete, um grande e conhecido cemitério onde muitas vezes foram realizados sacrifícios de inocentes. A palavra geennh é citada onze vezes, no Novo Testamento, sempre por Jesus, para aludir a morte eterna ou castigo sobre Israel. No caso deste texto, o termo inferno não se refere a um lugar metafísico, assim como o termo alma não se refere a um “ser” metafísico. Jesus referiu-se a geennh como o destino do corpo sem vida, isto é, cemitério. Lugar para onde a psique vai junto de seu portador, quando este a guarda para si e não a anuncia aos outros.

Analisando as palavras de Cristo, me pergunto: O que poderia “fazer perecer no inferno tanto o corpo, quanto a alma”? Simples: O desânimo, o desistir, a timidez. Enfim, o que faz calar, o que intimida, acovarda, que faz morrer os ideais, esmorecer a fé, matar a psique. Não é à toa que Apocalipse 21:8 afirma que os tímidos (ou covardes) morrerão eternamente.

A história nos ensina que grandes homens são aqueles que desafiaram o morno, o normal, a rotina e não omitiram o conhecimento que receberam, não desistiram de lutar pelo que acreditavam, não se intimidaram frente às dificuldades, não traíram a Deus nem à própria consciência. Os grandes homens ousaram falar, mesmo sabendo que seriam criticados e escarnecidos, proclamaram a verdade, mesmo que sua cabeça estivesse em jogo. Não foi por acaso que João Batista, um homem a quem não se atribui nenhum milagre, foi, segundo Jesus, o maior dos profetas. Por quê? Porque não se intimidou frente às ameaças, mas proclamou o tempo de conversão e por isso foi morto. Mataram seu corpo, mas sua voz continua clamando pelos desertos; seu corpo pereceu, mas sua psique vive ainda hoje, gerando frutos para a eternidade.

Nossa passagem nessa terra pode ser insignificante ou transformadora. Tudo depende de como nos portamos diante da própria fé. A morte do corpo é destino certo para todos, mas uma psique forjada no fogo do Espírito de Deus, transformada pelo Evangelho de Cristo e transmitida aos homens e mulheres de todos os povos, é a arma poderosa para transformar este mundo. A Palavra de Jesus é Palavra de Vida, é a Palavra que cremos e anunciamos. Não a levemos para a sepultura, anunciemo-la, eternizemo-la.



Rev. Julio Zamparetti Fernandes
Sermão dominical de 03/08/2008
REINA – Igreja do Futuro

terça-feira, 29 de julho de 2008

NÃO NOS TEMPLOS, MAS SIM NOS POÇOS. (JOÃO 4:1-42)


“e diziam à mulher: Já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (João 4:42).

Uma grande mudança estava ocorrendo entre os samaritanos. Eles, que haviam buscado a Jesus por causa dos sinais testemunhados por uma mulher pecadora, de que Jesus havia dissertado detalhes acerca da vida oculta dela, agora não mais se interessavam em tal sinal, mas interessavam-se nas palavras de vida que o Mestre proferia.

Os Samaritanos, bem como os judeus, sempre pediam e dependiam de sinais para crerem. Comumente pediam sinais a Jesus: os fariseus o tentaram diversas vezes pedindo um sinal do céu; os discípulos pediram como sinal, ver ao Pai. O próprio Jesus afirmou que ninguém lhe creria se não vissem sinais (vide João 4:48).

Os sinais tinham seus propósitos especiais: fazer com que uma geração incrédula cresse em Jesus e confirmar a Palavra pregada pelos discípulos (vide Marcos 16:20). O testemunho destes sinais, em especial o da ressurreição de Cristo, fez com que milhares de cristãos dessem suas vidas por Cristo, durante três séculos de intensa perseguição.

Assim, temos, hoje, um evangelho já confirmado a respeito de Cristo já vitorioso. O Evangelho que pregamos não carece de milagres para confirmá-lo, pois não pregamos um Evangelho novo, e sim o “velho” e perfeito Evangelho já confirmado pelos sinais operados por Cristo e os Apóstolos. Não estou dizendo com isso que os milagres cessaram, o que digo é que os milagres de hoje não são operados para confirmar a doutrina, mas tão somente para beneficiar os filhos de Deus. Se alguma doutrina carece de confirmação por milagres, essa doutrina não é de Cristo, pois a doutrina de Cristo, o Evangelho, já esta confirmada.

É nesse entremeio que se destacam os cristãos autênticos dos cristãos meramente nominais. Os nominais continuam buscando sinais. A Bíblia não lhes é suficiente. A ressurreição não lhes representa o devido valor e por isso são insaciáveis. Tais “cristãos” não provaram da água que Cristo dá, pois se assim fizessem, jamais tornariam a ter sede, nunca pediriam outro sinal. Se bebessem da água de Cristo, a sua Palavra, não estariam correndo atrás do pastor mais poderoso, nem da emoção mais forte, ou da unção mais poderosa, muito menos da revelação mais incrível. Estariam satisfeitos, saciados pela Palavra de Deus que é poderosa, Palavra verdadeiramente ungida, Revelação de Deus ao homem. A esse respeito dizia Martinho Lutero: "Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida, como para o que há de vir".

Os samaritanos estavam começando a provar dessa água. Os sinais antes testemunhados pela mulher deixavam de ser o atrativo a Cristo. Eles estavam descobrindo algo mais precioso. O desejo de Cristo é que todos nós também façamos a mesma descoberta; que deixemos de mirar as mãos de Deus para alvejar seu coração; que o deixemos de amá-lo pelo que Ele faz e amemo-lo pelo que Ele é; que rompamos os padrões estabelecidos pela religiosidade humana e abracemos com todas as forças a vontade divina. Que compreendamos que nós, a igreja, somos o corpo de Cristo na Terra e cada um de nós membros deste corpo. Portanto, somos os pés de Cristo para alcançar os povos, somos as mãos de Cristo para tocar o mundo.

A igreja precisa deixar de estar voltada para si própria, enchendo-se de poder sem ter pra quê, buscando unções que incham o ego. A igreja precisa estar voltada pra fora, proclamando ao mundo o Evangelho de Cristo que “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1:16). Esse é o verdadeiro poder. Quem está disposto a buscá-lo? Você se dispõe, ou prefere continuar enclausurado no templo, agradecendo por ser um salvo e o mundo que exploda (literalmente).

Cristo nos constituiu luz do mundo para que o mundo recebesse nossa luz. Ele nos fez sal da terra, para que a terra tivesse sabor a partir de nossa simples presença e interação com ela. Não é nas igrejas que a nossa luz é mais requisitada, e sim no mundo. Não é em nossos grupos de estudo que o sal é mais necessário, e sim entre os ímpios. Não foi no templo que Jesus alcançou a mulher samaritana e sim a beira do poço. Da mesma sorte, não é no templo que se concretiza o propósito de Deus para nós, e sim nos poços da vida.

Nos poços, volta-se constantemente para buscar água. Outra vez, e outra vez, outra, e outras mais e mais... A condição de quem busca água junto ao poço é insaciável. Assim está o mundo e, infelizmente, a maioria dos que se dizem cristãos. Pois tanto os prazeres mundanos quanto a busca insaciável por sinais e outros caprichos religiosos (atrás dos quais muitos escondem a vida pecaminosa podre, sem conhecer o poder transformador do Evangelho), são engano e engodo.

Jesus quebrou os padrões estabelecidos pela religiosidade: conversou com uma mulher samaritana, jantou na casa de publicanos, permitiu que prostitutas lavassem seus pés, sem se importar com quem, ou o que, murmuravam dele. Tudo isso porque Jesus veio para os enfermos e não para os sãos. Diante disso eu pergunto: é coerente o corpo de Cristo, hoje, agir diferente do próprio Cristo, seu Mestre?

Para o Mestre, era mais importante e prazeroso falar da salvação aos samaritanos, do que almoçar com seus discípulos, isso porque fazer a vontade do Pai lhe saciava infinitamente mais que a comida terrena. Quando realmente estivermos moldados pelo poder do Espírito Santo, segundo a imagem de Jesus, também agiremos como Cristo e, então, só então, seremos saciados.


Rev. Julio Fernandes
Homilia dominical, pregada em 27/07/2008.